Uma abordagem Somático-emocional*
Teixeira, Iracema** e Cohn, Leila***
Origens:
Stanley Keleman criou a Psicologia Formativa® nos idos da década de 60, em Berkeley, Califórnia, onde fundou e dirige o Center of Energetic Studies.
Ao longo desse tempo, Stanley Keleman organizou sua teoria influenciada por várias contribuições:
» Teoria evolucionista de Charles Darwin
» Psicologia Constitucional de William S. Sheldon
» Perspectiva culturalista de Alfred Adler
» Psicologia da Consciência de William James
» Fenomenologia de Heidegger
Keleman formou-se em psicologia existencial no Dasein Analiytic Institute, na Suíça e estudou a Psicologia do Sagrado com Karlfried von Durkheim, na Alemanha. De volta aos EUA trabalhou com Nina Bull, neurofisiologista em NY e com Alexander Lowen. Mais tarde formou uma parceria de trabalho durante 14 anos com Joseph Campbell.
Ao afirmar “Eu sou meu corpo. Meu corpo sou eu.” (1981, p. 15), Keleman trata a subjetividade como uma experiência corporificada e desfaz o dualismo mente-corpo. O corpo não se constitui em um objeto de estudo e análise, mas em um processo vivo, em constante organização de si mesmo.
O processo Organizador e o Processo Formativo:
Temos dois processos acontecendo simultaneamente: o processo organizador biológico e o processo formativo. Todo organismo é concebido como um adulto e cresce em direção à realização do seu destino, a corporificação da forma adulta. Ao longo deste caminho o ser humano passa por diferentes formas – bebê, criança, adolescente, adulto, adulto maduro e adulto idoso. Esta sucessão de formas geneticamente herdada constitui o processo organizador biológico. Este processo é involuntário, herdamos um corpo a ser crescido. A partir deste corpo geneticamente dado, iniciamos a nossa interação com o mundo e passamos a organizar a nossa forma pessoal. Esta jornada em direção à nossa pessoalidade que inclui a possibilidade de influenciarmos volitivamente a nossa forma constitui o processo formativo.
Deste modo, o corpo como fonte do existir pessoal é um processo em constante formação de si mesmo e do seu futuro.
Seguindo esta concepção dos processos biológico e formativo acima descritos, Keleman propõe duas tipologias: os Tipos Constitucionais (corpo herdado) e os Tipos Somáticos (corpo formado). Os tipos constitucionais baseiam-se na predominância de certas camadas embriológicas (ectomorfos, mesomorfos e endomorfos) e influenciam nossa maneira de ser e nos relacionar, estabelecendo tendências de comportamento. Os tipos somáticos, (inchado, poroso, rígido e denso), extensamente descritos em Anatomia Emocional (1992), constituem estratégias organizadas para lidar com as demandas internas e externas. A constituição herdada e a organização somática formada estão em constante interação.
O Terapeuta Formativo:
Duas questões norteiam o projeto psicoterapêutico:
- “Quem sou eu? / Como estou presente?”
- “Quem posso vir a ser? / Como posso reorganizar minha forma de ser e estar no mundo?”
Considerando que todo o ser humano possui um anseio inato de crescer a si mesmo, a premissa básica da psicoterapia formativa é possibilitar à pessoa dar corpo e consolidar aquilo que ela está tentando formar. O terapeuta age como facilitador deste processo, oferecendo instrumentos ao paciente para que ele possa aprofundar o diálogo consigo mesma e influenciar o próprio destino. Trabalhamos para formar algo, não para corrigir danos do passado.
A habilidade de influenciar atitudes e comportamentos é possível mediante a compreensão de que anatomia é comportamento e forma é função. A maneira como uma pessoa está organizada somaticamente gera experiências que modulam sua relação consigo e com outros.
Pensamentos, sentimentos, emoções, imaginação e desejos são ações, formas, organizações somático-emocionais. Estas formas-comportamentos envolvem um diálogo constante entre o soma e seu órgão de comunicação, o cérebro. Soma e cérebro existem em uma relação de cooperação, na qual o cérebro ajuda o soma a falar consigo e a auto-regular-se.
A Metodologia Formativa:
Baseado na existência desta relação entre soma e cérebro e no conhecimento da função volitiva do córtex cerebral, Keleman criou uma metodologia que denominou de PRÁTICA DO CORPAR. A metodologia está calcada em princípios anatômico-fisiológicos e tem como objetivos:
1) estabelecer uma interioridade, desenvolvendo uma relação entre o processo organizador profundo e a forma pessoal-social
2) aprofundar o diálogo entre córtex e soma através do crescimento da função volitiva do córtex
3) possibilitar uma crescente influência sobre o próprio processo.
A prática do Corpar apresenta 5 passos:
1º Perceber como você está presente; qual a sua organização somática.
2º Intensificar a organização, aprofundando a atitude volitivamente, passo a passo.
3º Desorganizar volitivamente a intensificação da forma, em pequenos passos, gradualmente.
4º Pausar e esperar. Entrar na incubação não-volitiva e receber as próprias respostas.
5o Consolidar a forma que aparece. Corpar a sua mais recente criação.
“Ter forma é estar vivo. Mas permanecer fixado numa forma é estagnar. Nosso destino é continuar a formar”. (Keleman, p.31, 1995)
A função volitiva do córtex dialoga com os músculos e isto influencia a postura, a expressão emocional e as relações.
Este pulsar entre as formas torna possível organizar contato e individuação, atitudes de dar e receber, regular proximidade e distância e formar intimidade consigo e com outros. A Psicologia Formativa® busca crescer e maturar uma forma adulta pessoal e, desta maneira, possibilitar sermos co-autores de nossas próprias vidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COHN, Leila. A visão de Stanley Keleman. Rio de Janeiro: Centro de Psicologia Formativa®, 1993 (mimeo).
KELEMAN, Stanley. O corpo diz sua mente. São Paulo: Summus, 1981.
Being na Adult: Patterns of love and intimacy. Berkeley: Center of Energetic Studies, 1995 (mineo).
Anatomia Emocional. São Paulo: Summus, 1992.
Corporificando a experiência. São Paulo: Summus, 1995.
*ARTIGO PUBLICADO nos Anais do II Fórum do Curso de Pós-graduação em TERAPIAS CORPORAIS – Fundamentos Teóricos. Realização do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação – IBMR / de 08 a 12 de novembro de 2001.
**Teixeira, Iracema – Psicóloga – CRP 05/8968, Mestre em Sexologia Clínica. Estuda e trabalha no Centro de Psicologia Formativa®/RJ como membro do grupo profissional e participa dos workshops de Stanley Keleman, desde 1995.
***Cohn, Leila – Psicóloga – CRP 05-8164, Psicoterapeuta formativa, mestre em psicologia pelo California Institute of Integral Studies, São Francisco, California, membro associado do Center for Energetic Studies em Berkeley, CA, Diretora do Centro de Psicologia Formativa® do Rio de Janeiro.
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